A SP Escola de Teatro, criada e gerida pela Associação dos Artistas Amigos da Praça (ADAAP), entrevista em 2023 todos os seus 13 conselheiros.
Inaugurada em 2010, a SP Escola de Teatro é uma instituição da Secretaria de Cultura, Economia e Indústria Criativas do Estado de São Paulo.
A associação é uma Organização Social e exemplo do modelo de gestão de Políticas Públicas que vem sendo implantado pelo governo do Estado desde 2004, com base na Lei Complementar n° 846/98 e no Decreto Estadual nº 43.493/98. Através da publicização, ou gestão pública não estatal, serviços e atividades públicas são geridos por meio de parcerias entre o Estado e o terceiro setor.
A ADAAP faz parte da Associação Brasileira das Organizações Sociais de Cultura (Abraosc) e tem por finalidade desenvolver e administrar projetos socioeducacionais, culturais e institucionais, valorizando a arte e a educação no estado de São Paulo.
Helena Ignez
A entrevistada de hoje é Helena Ignez, atriz e cineasta, uma das principais artistas em atividade no Brasil. Aos 81 anos e com dezenas de peças e filmes no currículo, continua trabalhando diariamente em novos projetos, como no recente “Alegria É a Prova dos Nove”, ao lado de Ney Matogrosso.
Nascida em Salvador, em 1942, iniciou sua carreira como modelo de desfile. Inicialmente cursava direito, mas decidiu abandonar o curso para estudar artes dramáticas na Universidade Federal da Bahia (UFBA). Nesse período, começou a fazer amizades com pessoas ligadas ao cinema e às artes, frequentando grupos vanguardistas.
Um dos diretores que conheceu na universidade foi Glauber Rocha, com quem se casaria e teria uma filha, Paloma. Entrou no mundo do cinema atuando em 1959 no curta-metragem “Pátio”, de Glauber. A partir daí, não parou mais. Nos anos seguintes, atuou nos filmes “A Grande Feira”, “Assalto ao Trem Pagador”, “O Grito da Terra” e “O Bandido da Luz Vermelha”, entre outros marcados do Cinema Novo. No teatro, fez “Descalços no Parque” e “Verão”.
Ao longo das décadas de 1960 e 1970, participou de inúmeros filmes, alguns dos quais rendendo vitórias de prêmios importantes do cinema brasileiro. Nesse período, conheceu e se casou com o cineasta Rogério Sganzerla, com quem viveu até a morte dele. O casal teve as filhas Djin e Sinai. Em 1970, participou de seis filmes, todos de Rogério Sganzerla ou Júlio Bressane: “A Família do Barulho”, “Barão Olavo, o Horrível”, “Copacabana Mon Amour”, “Cuidado Madame”, “Sem Essa, Aranha” e “Carnaval na Lama”.
Em trabalhos recentes, como diretora, produziu “Ralé” (2016), “A Moça do Calendário” (2018) e “Alegria É a Prova dos Nove” (2023). No teatro, fez nos últimos anos peças premiadas como “Pessoas Sublimes” (2016) e “Insônia – Titus MacBeth” (2019). Durante sua rica carreira, venceu e foi indicada a prêmios como APCA, Grande Prêmio do Cinema Brasileiro, Festival de Brasília e Prêmio Shell.
Confira a entrevista com Helena Ignez
Como se deu sua entrada no conselho da ADAAP? Por que, para você, é importante participar desse conselho e contribuir para o trabalho da associação?
Sei da importância da ADAAP desde quando ela foi fundada. Ela gere uma das mais importantes instituições culturais de São Paulo, especificamente na região do centro, na Praça Roosevelt, onde funciona a escola que é um exemplo internacional de gestão e pedagogia. Tive a honra de ser convidada por Ivam Cabral, diretor da SP Escola de Teatro, para fazer parte do conselho.
Para você, qual a importância e o impacto do trabalho da ADAAP e da SP Escola de Teatro nessa última década e meia?
A importância e o impacto do trabalho da ADAAP e da SP Escola de Teatro nessa última década e meia pode ser analisada pelos marcos que vem conquistando internacionalmente, como os prêmios The Bizz Hybrid Awards e o European Award for Best Practices.
Qual a importância das artes cênicas e das artes do palco para você? Qual o papel transformador do teatro na vida das pessoas e na sociedade?
A importância é fundamental. Além do lado socialmente educativo, o mais importante é que o teatro desenvolve o autoconhecimento.
A sua carreira é vastíssima, no teatro, cinema e na televisão. Muitos anos e muitos trabalhos entre “O Bandido da Luz Vermelha” e “Pessoas Sublimes” ou “A Moça do Calendário”. Como você enxerga sua trajetória até aqui? Que marca você crê que deixou na cultura brasileira e quais outras marcas você quer deixar?
Sim, tenho mais de 60 anos de trabalhos múltiplos em cinema, teatro e televisão. Relembro “Pessoas Sublimes” como um momento de prazer e aprendizado na Cia Os Satyros. A minha trajetória até aqui considero bem sucedida, pelo carinho que recebo de pessoas que não conheço e que dizem ser meus fãs. Pessoas que agradecem pela minha vida, por minha sinceridade, pelo meu exemplo. Então é uma carreira pra mim de alegria e realização da qual eu me orgulho. Na cultura brasileira, a marca que deixo é de liberdade e da escolha artística em todos os meus projetos, o lado humano, social é indispensável na escolha de qualquer um dos meus trabalhos.
Como a nossa sociedade, unida – governo, entidades, cidadãos -, pode pensar em ampliar mais a cultura e as artes na cidade e no estado, aumentando o seu papel imprescindível de transformação e educação?
A nossa sociedade unida é forte, inteiramente forte e no momento temos um governo interessado em cultura e no desenvolvimento humano, social e psíquico. Acredito que estamos em ótimas mãos no atual momento, com o Ministério da Cultura formado e trabalhando cada vez mais na amenização do grande estrago que tivemos no governo anterior.
Qual livro, filme, peça ou outro trabalho artístico você recomendaria para uma pessoa que quer conhecer mais sobre o Brasil atual, quer entender mais onde vivemos e agir a partir disso? Por quê?
Eu diria para ler Ailton Krenak. Transforme a sua vida com esse filósofo indígena. Conheça o outro e suas diferenças e seja feliz.
Fonte: SP Escola de Teatro