REFLEXÃO DE SEXTA | A Expansão da Realidade: A Complexidade Ampliada das Relações Humanas

Atualmente, a realidade de nossos círculos sociais e das interações com o mundo ultrapassa a necessidade de presença física, apoiando-se na essência e na intencionalidade dessas conexões. O que define o que é “real” não é mais o contato presencial, mas o significado e o impacto dessas relações, seja qual for o meio.

Historicamente, a presença física foi vista como o principal critério para a autenticidade das interações sociais. No entanto, o avanço da tecnologia desafiou essa percepção, ampliando o conceito de “presença” para incluir formas de encontro que, embora virtuais, são percebidas como legítimas e concretas. Hoje, por exemplo, uma reunião realizada por videochamada é amplamente aceita como uma interação “presencial”. A presença aqui, ainda que virtual, mantém o impacto real: facilita o diálogo, a troca de ideias e permite até a construção de laços significativos, revelando que o vínculo social não depende mais da coabitação de um espaço físico.

Esse fenômeno também se estende ao campo financeiro e às relações comerciais, que se desvincularam de um espaço físico para operarem de forma totalmente digital. Moedas virtuais como o Bitcoin exemplificam essa nova realidade: mesmo sem uma materialidade tangível, como o papel-moeda, elas possuem valor concreto e sustentam negociações e transações econômicas. Bancos digitais, por sua vez, operam sem agências físicas, mas facilitam a vida financeira de milhões de pessoas, assegurando a mesma relevância de instituições tradicionais. Nesse contexto, a realidade econômica passou a depender menos de regulamentações físicas ou presenciais e mais da confiança e da funcionalidade desses sistemas.

Esse novo entendimento nos leva a redefinir o que consideramos “autêntico” e “presente”. Nossos círculos sociais e profissionais se desenvolvem em ambientes digitais, mas isso não os torna menos reais ou autênticos. O valor dessas interações é dado pelo envolvimento subjetivo e pelo reconhecimento de que o impacto gerado transcende a mera presença física. Assim, a realidade dessas relações é percebida pelo grau de proximidade e pelo significado que elas produzem na vida das pessoas.

Dessa forma, o conceito de “presença” se amplia para englobar não só o contato físico, mas também a qualidade e profundidade do envolvimento – seja em encontros sociais, seja em transações econômicas. A realidade dessas experiências está ligada ao impacto e à intenção por trás delas, mostrando que a essência das conexões humanas é cada vez mais determinada pela percepção de proximidade e pelo significado, e não pela geografia ou pela materialidade. Em um mundo onde o virtual se integra ao cotidiano, percebemos que o “real” é construído tanto pela interação física quanto pela percepção mútua de presença e relevância, refletindo a natureza cada vez mais ampla e complexa das relações humanas.

Ator, roteirista e cineasta. Co-fundador da Cia. Os Satyros e diretor executivo da SP Escola de Teatro.
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