Arte popular e arte erudita não mais existem, na forma como existiam nos tempos de Adorno. Todas se transformaram em segmentos da indústria cultural, podendo ser compradas a preços conformes.
Num país com injustiças sociais tão descabidas, limitar-se ao erudito ou ao popular significa excluir a possibilidade de inserção do outro nos limites da experiência estética.
Interessa, isso sim, o teatro popular no sentido arcaico do termo, na experiência que é acessível a instruídos e não instruídos, a todas as classes sociais, com diferentes camadas de compreensão e significação que cada pessoa vai assimilar conforme sua formação intelectual, mas que não inviabiliza a fruição estética.
Afinal, em um país de desigualdades tão gritantes, o teatro deve entender a dimensão de arte burguesa que as artes cênicas tendem a ter e superá-la, para tentar se relacionar com outros segmentos sociais. Democracia teatral, eis o lema.
Porém, necessitamos da técnica que não pode ser negada, sob o risco de não se realizar arte.
Devemos dominar os meios técnicos de ser ator, diretor, sonoplasta, dramaturgo, cenógrafo, iluminador, figurinista. Mas o domínio técnico não pode jamais suplantar o que está sendo discutido, o eixo da obra. Algo precisa ser expresso, a técnica para expressá-lo é fundamental. Mas a técnica, sem o que deve ser expresso, é simulacro. Quando a técnica é lançada ao primeiro plano e o conteúdo é secundarizado, acontece a pior coisa: o teatro se transforma em mistificação barata.
A limitação técnica também pode ser usada a favor do teatro, quando é autenticamente relacionada com os conteúdos e opções formais do espetáculo.
A técnica contribui sempre, e quanto mais a técnica se desenvolve e admite influências, mais ela se enriquece e facilita a expressão do artista.
Também significa ter o cuidado de não usar uma técnica aprendida apenas por tê-la aprendido, sem perceber as relações entre a técnica e a forma e o conteúdo do espetáculo.