PLÁGIO? | 𝐀𝐯𝐞𝐧𝐢𝐝𝐚 𝐌𝐮𝐥𝐭𝐢𝐝𝐚̃𝐨 – 𝐑𝐨𝐮𝐛𝐨 𝐚̀ 𝐏𝐚𝐮𝐥𝐢𝐬𝐭𝐚 (𝐜𝐫𝐨̂𝐧𝐢𝐜𝐚 𝐜𝐨̂𝐧𝐢𝐜𝐚, 𝐦𝐚𝐬 𝐬𝐞𝐦 𝐩𝐞𝐫𝐝𝐞𝐫 𝐚 𝐥𝐢𝐧𝐡𝐚)

Em 2020, quando o mundo ainda acreditava que fermentar pão era um hobby revolucionário, atendemos ao honrado chamamento do SESI Cultura e parimos o projeto “Avenida Multidão — Do Paraíso à Consolação”. A proposta era simples como buzina na hora do rush: dar ouvidos à Avenida Paulista, esse tapete rolante que carrega banqueiro de terno, ciclista zen, gótico suave e vendedora de brigadeiro, tudo na mesma cadência cardíaca de concreto.

Nosso enredo? Histórias que se atravessam como pedestres no sinal amarelo: a moça que sonha em fugir pra Londres, o ambulante que confunde Picasso com palta e o executivo que só descobre a própria humanidade quando acaba o 4G. Tudo costurado numa dramaturgia com cheiro de ônibus elétrico, suor de patins e poesia de poste luminoso. Sensível, crítico, sensorial. Quase um filtro de Instagram aplicado ao caos.

Pois bem, corta para 2025: abrimos o jornal — para quem ainda cultiva o exótico hábito de folhear papel — e lá está a manchete: “Estreia hoje a peça ‘Avenida Paulista – Do Paraíso à Consolação’”. Mesma sinopse; o título só difere porque, onde escrevemos “Multidão”, eles ressuscitaram o óbvio “Paulista”, talvez na esperança de disfarçar o roubo, mas o travessão preguiçoso entre Paraíso e Consolação continuou intacto. Só faltou citarem nossa mãe na ficha técnica.

Reação? Silêncio constrangido de quem perdeu o celular no Uber: seguramos o grito na goela, engolimos seco e, por um segundo, pensamos que era pegadinha do Silvio Santos versão teatro alternativo. Não era. Roubaram na cara dura, sem nem trocar o figurino.

E aqui estamos, tentando explicar a você, que copyright no Brasil às vezes vale menos que guarda-chuva em ventania de julho. Roubam ideia, levam embora, depois pedem selfie no coquetel de estreia. E a gente? Faz crônica. Porque crônica é vingança elegante: aplaude com uma mão, arremessa pombo correio com a outra.

Que conclusões você tira disso tudo? Talvez que somos ingênuos de acreditar em edital honesto. Talvez que Avenida Paulista seja imã de plágio e de gente apressada. Ou, quem sabe, que toda boa ideia nasce órfã num país onde adoção de conceito é esporte olímpico.

Mas não se preocupe: sigo firme, café na veia, pronto para o próximo chamamento cultural. Afinal, a cidade é grande, o ego do artista maior ainda, e o senso de justiça… bem, esse pegou a linha-vermelha rumo a Itaquera e ainda não voltou. Enquanto isso, seguimos andando pela Paulista, escutando as histórias que ninguém copyrightou — ainda.

Ator, roteirista e cineasta. Co-fundador da Cia. Os Satyros e diretor executivo da SP Escola de Teatro.
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