FERNANDA EZABELLA DE LOS ANGELES
“É um bando de brasileiros pelados”, avisa o semanário “LA Weekly”, como um convite à esbórnia para uma nova peça em cartaz em Los Angeles, antes de completar: “fazendo cenas violentas e repugnantes de sexo”.
O grupo paulistano Os Satyros dominou as atenções no festival Fringe Hollywood ao trazer sua peça mais polêmica, “Filosofia na Alcova”, baseada em texto do século 18 de Marquês de Sade, que inclui três estupros, muitos pênis à mostra e alguém comendo cocô.
O jornal classificou o trabalho como “intrigante” e chamou os atores de “tão graciosos quanto corajosos”.
Num artigo separado, ainda colocou o espetáculo na lista dos dez mais “incríveis” do evento, que tem mais de 200 shows em 20 casas do circuito alternativo.
Numa sessão acompanhada pela reportagem, o público quase lotou o teatro de 80 lugares, deu risadas tensas e aplaudiu quando um dos libertinos (o ator André Engracia), num dos muitos discursos políticos da peça, alertou para o fato de que o “império atual usa assassinatos para se manter no poder”, referência original à França, mas facilmente atualizada para os EUA de hoje. Uma mulher deixou a peça no meio.
“Acho que muitas pessoas vão se sentir ofendidas, mas é um trabalho muito verdadeiro ao espírito de Sade”, disse o escritor Michael Kass, 36, que estava na plateia.
Para a advogada Zara Lockshin, 27, o mais “chocante” foi quando a protagonista (Raissa Peniche), uma virgem que é iniciada na libertinagem, mata a própria mãe (Deborah Graça). “Nas cenas de sexo, me distraía tentando entender o discurso em inglês.”
Os Satyros têm mais 14 apresentações em Los Angeles. Antes da primeira, o diretor Rodolfo García Vázquez comentou que tinha receio da recepção do público americano, mas se surpreendeu depois de algumas sessões.
“Esperava um pouco de polêmica, e não uma adesão unânime”, comentou Vázquez. “Parece que eles [público] estavam sedentos por algo assim, chegamos na hora certa.”
Fonte: Folha de S. Paulo, 15 de junho de 2013