NA MÍDIA: OS SATYROS FORMA GRUPO TEEN DE TEATRO

Paulistano Os Satyros cria grupo de atores teen para discutir sexualidade com Teatro

Satyros agora em versão teen

por: Hélio Filho

O grupo de teatro de São Paulo Os Satyros é conhecido por sua liberdade de criação e expressão na hora de contar histórias da vida real de gente adulta em suas peças, cheias das dores e das delícias do mundo, do ser humano. Agora a companhia volta seus olhos para os problemas de gente mais nova, ainda adolescente, e descobre um universo de realidade riquíssimo a ser explorado pelos recursos cênicos. No mês de março o grupo coloca em um de seus dois palcos na Praça Roosevelt, em São Paulo, a montagem de “Na Real”, que reúne histórias reais de meninos e meninas com idade entre 15 e 18 anos.

O texto é uma criação coletiva de pelo menos 15 jovens da rede pública de ensino de São Paulo com coordenação de um dos cabeças do Satyros, Rodolfo García Vázquez. Em conversa com a Junior, Rodolfo se mostra feliz com o resultado do projeto que vem desenvolvendo desde o ano passado e revela que, mesmo não sendo o objetivo, “Na Real” ajudou muitos adolescentes a aceitarem melhor sua orientação sexual.

Rodolfo revela que “estar junto com os outros adolescentes também homossexuais facilita porque eles acabam tendo confiança uns nos outros para se abrir e trazer os problemas das gerações deles. No mundo deles eles precisam parecer fortes perante os outros”. O elenco está em fase de mudança porque o grupo “só trabalha com atores de 15 a 18 anos, então tem que mudar algumas pessoas do elenco que já saíram dessa faixa etária”.

O projeto partiu dos depoimentos das vidas deles mesmos e pretende contar como esses jovens vivem hoje abordando questões como drogas e a aceitação de sua própria sexualidade na adolescência. “Com 14, 15 anos esses meninos já estão em contato com isso, a homossexualidade é tratada de outra forma aqui”, diz o diretor, que acredita que esta “é uma discussão que tem tudo a ver com o Satyros, mas as pessoas não gostam de falar do adolescente”. Segundo ele, “quando você dá voz ele fala de violência, de bullying, de aceitação da sexualidade”.

Vários atores foram se descobrindo homossexuais ao longo do processo e se aceitando dentro do Satyros. Um tema que passa longe do que Rodolfo chama de juventude Malhação. “A imagem do adolescente que você tem hoje em dia é a do adolescente da novela “Malhação”, mas não é a realidade, aquilo é um mentira. Não tem discussões sobre a desestruturação familiar, os casos de alcoolismo do pai, a questão de se impor diante dos colegas através da arma, da droga, é um campo muito complexo e delicado”.

A homossexualidade foi colocada em questão à medida em que esses jovens foram falando. “Queríamos que eles falassem da vida deles.” Ao mesmo tempo, eles podem fazer teatro em um grupo em que  a fragilidade é vista como uma condição natural e não como uma condição de opressão. Rodolfo leva em conta que os meninos gays têm um problema a mais, ou seja, além de todos os problemas dos outros meninos, de ser aceito, que caminho fazer, que carreira seguir, além de tudo isso eles têm o problema de como lidar com a questão sexual na vida deles.

“Se os outros meninos, que são heterossexuais, vão chegar e falar para os pais deles que estão a fim de um a menina, esses jovens gays chegam e dizem que são meninos que eles estão a fim. As histórias são incríveis”, avalia, reconhecendo que a entrada desse elenco jovem deu um fôlego novo ao Satyros. E com tanta gente nova assim pertinho de você já dá para ficar de olho em um futuro talento. “O projeto Na Real é também uma forma de desperta vocações nesse jovens.”

Por uma questão de princípio do Satyros, as cenas não são feitas pelos meninos que viveram as histórias. Um deles, por exemplo, falou para a mãe que era gay, então quem faz a cena é um menino heterossexual. “Isso é para deixar claro que nós estamos no universo do teatro.”

E quem quiser entrar é bem-vindo. Os novos atores são indicações dos próprios meninos que já participaram do projeto, mas o grupo está fazendo também testes nas escolas públicas de São Paulo. Se alguém quiser entrar no projeto pode entrar em contato pelo telefone do Satyros, o (11) 3258-6345. A direção do grupo é de uma transexual, Hester Antunes.

Fonte: Mox Brasil, 17 de fevereiro de 2012

Ator, roteirista e cineasta. Co-fundador da Cia. Os Satyros e diretor executivo da SP Escola de Teatro.
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