Cheguei em Portugal pela primeira vez no início dos anos 1990. Era um outro tempo e Lisboa, outra cidade. Aos 20 e poucos anos, eu tinha uma vida inteira pela frente.
Hoje, em retrospectiva, vejo o quanto era atrevido. Cheguei a visitar Amália Rodrigues em sua casa no Bairro Alto, vejam só! Nossa, fui à casa de muita gente!
Fui ao apartamento do Carlos do Carmo, à casa da Simone de Oliveira, do Sérgio Godinho, do Rodrigo Leão. Até à casa da cantora Ágata, eu fui.
Pra quem não é de Portugal, importante, todos estes nomes são de cantores, às suas épocas, (bem) famosos. Muitos deles eu fiz contato por telefone. Pegava o número no auxílio à lista telefônica, ligava, me apresentava e lá ia eu para um café ou um chá da tarde. E tive histórias incríveis com cada um deles.
Ontem, chegando ao Parque Meyer, quem estava ali, na porta de entrada dos artistas do Teatro Maria Vitória? Ela, a fadista Cidália Moreira.
Não me fiz de rogado. Imediatamente fui ao seu encontro para declarar a minha admiração por ela.
Em nosso espetáculo “Medea”, montado no final dos anos 1990, em Curitiba, um fado de Cidália, “Amar, Amar”, a partir do poema homônimo de Florbela Espanca, era executada em um dos momentos mais bonitos da peça.
Cidália recebeu super bem o meu abraço e, aos 80 anos, está linda e em forma.
Depois de uma breve conversa – falou de suas peripécias pelo Rio de Janeiro, onde viveu por quatro anos, nos anos 1960 –, nos contou que está ensaiando uma peça de teatro de revista nova, que deve estrear em breve.
Ali, durante o tempo em que falávamos, agradecia aos deuses do teatro aquele encontro, enquanto ia me lembrando de “Amar, Amar”…
Há uma primavera em cada vida:
É preciso cantá-la assim florida,
pois se Deus nos deu voz foi pra cantar
