Nesta semana, recebemos os novos aprendizes da SP Escola de Teatro. E, como nos anos anteriores, preparamos uma surpresa para esta acolhida. Na terça, pontualmente às 9h da manhã, a atriz, dramaturga e diretora Roberta Estrela D’Alva e o grupo Treme Terra já esquentavam o clima para trazer um Hip Hop de primeira e uma batucada contagiante que balançou nossa festa.
Além da boa música, realizamos, também, a já tradicional “cerimônia do pão”, que foi conduzida pelo professor chef Moisés Costa. A celebração, além de ensinar a preparar e modelar a massa e ratificar a importância simbólica do alimento em todo o mundo, teve como principal alvo estabelecer uma conexão direta com o trabalho do coletivo. Assim, colocar a mão na massa, foi, literalmente, o foco da atividade que traçou um paralelo entre a preparação pão e a de um espetáculo teatral.
Depois de saborear seus próprios pães, nossos pupilos tiveram outra etapa a cumprir. A provocação: precisavam perpetuar seus sonhos e marcar aquele momento. Para isso, convidamos o artista plástico Juvenal Irene, que, usando sua experiência, guiou nossos iniciados. Com pincéis e seis cores de tinta epóxi – aquelas usadas na construção civil e que têm a função da longa durabilidade –, distribuídas em várias mesas, o objetivo era pintar em um azulejo qualquer coisa que lhes viesse a cabeça.
Intencionalmente, este exercício veio de uma experiência que vivi há anos. Quando menino, em Ribeirão Claro, no Paraná, numa tarde ensolarada, uma calçada acabara de ser cimentada. Na argamassa fresca, com um graveto, escrevi lá o meu nome.
Desde então, toda vez que retorno à minha pequenina cidade, encontro, quase como um milagre, na mesma calçada, a inscrição de minha infância: “Ivam, 1973”. E isso me enche de alegria. Tenho a sensação de que nunca deixei de pertencer àquele lugar. Daí, me encontro com Milton Santos que diz que “territorialidade é pertencer àquilo que nos pertence, pressupondo também a preocupação com o destino, a construção do futuro, o que, entre os seres vivos, é privilégio do homem”. E, sabemos, o pertencimento deve ser talhado, ratificado o tempo todo.
Assim, pensando que nossos aprendizes precisam se apropriar da Escola, o azulejo é, simbolicamente, uma maneira de construir em coletivo um pouco desta ideia do pertencimento que tanto nos falou Milton Santos.
Deste modo, a partir da celebração – tão cara ao teatro –, eternizar nas paredes de nossa Instituição os desejos, os sonhos e as apreensões de quem está no especialíssimo momento do ponto de partida. Sim, estes azulejos estarão cravejados nas paredes da SP Escola de Teatro a partir de agora. E seus coloridos, seguramente, encherão nossos mundos com mais alegria.
Muito legal Ivam, tbm tenho muitas saudades da nossa infância, gostaria muito de um dia a gente se encontrar, teremos muitas coisas a relembrar…bjs.