Há espetáculos que causam um grande impacto à primeira vista. Há outros que crescem depois, ao longo dos dias. Idéias, imagens, momentos voltam e com eles o que se viu vai ganhando outro tamanho.
É o caso de “Inferno na Paisagem Belga” dirigido por Rodolfo García Vázquez, com esse ator ímpar que é Ivam Cabral. Algumas das fragilidades do projeto de Rodolfo ( que lembram, em grande medida, as mesmas do projeto de Zé Celso) e algumas das armadilhas que ele mesmo se prepara estão ali.
Mas estão também uma extraordinária capacidade de construir o belo com quase nenhum recurso material, de tratar da exclusão sem romantizá-la, de incitar ao pensamento e à ação sem ser catequético e, principalmente, de revisitar assuntos já demasiado conhecidos ( Rimbaud e Verlaine, só para ficarmos na nossa dramaturgia, já estão lindamente recuperados em “Pólvora e Poesia” de Alcides Nogueira) revelando temas inesperados.
Rodolfo está no meio de um processo que ainda não produziu uma “grande obra”, quase nenhum processo interessa ao espectador comum – e , no entanto, essa obra em aberto é mais bela e muito mais interessante que grande parte da obras acabadas que atravancam nossos 3.000 “espaços teatrais”.