Sim, indústria cultural existe. E está aí, no jogo do mercado cultural. Mas o teatro não pode se ater aos seus princípios. Os únicos princípios devem ser os da expressão das verdades estéticas submersas. E se para expressá-las há inviabilidade de “capitalização”, esses princípios devem valer mais do que as regras do lucro. Chega de ouvir dizer: “Belo espetáculo, mas vocês devem apresentá-lo em salas maiores, para ganhar mais.”
Superar a dificuldade da sua inviabilidade econômica é também uma manifestação do teatro, que fica implícita no valor estético da obra. Convivemos com a indústria cultural como convivemos com a desigualdade social, a hipocrisia moralizante e os conflitos sociais: fatos que devem fazer parte do nosso imaginário, mas que não podem nos dominar e limitar nosso Teatro.
A indústria cultural procura justamente a produção em série, para consumo imediato, atendendo a segmentos de consumidores. O teatro não pode ser feito para consumidores que buscam a satisfação de desejos fugazes, mas para homens e mulheres que busquem outras hipóteses de existir na sociedade e diante de suas próprias vidas. Ao desprezar a dimensão de teatro como produto a comercializar, o teatro que acredito deve buscar a liberdade da Arte, na qual a Sociedade pode realmente ser reconstruída.
As utopias totalitárias também acabaram. E, com elas, a fonte fundamental de negação do status quo vigente. Se outras utopias sociais não são factíveis, restaria acreditar que a utopia é o aperfeiçoamento do sistema em que vivemos, é o que nos ensina o próprio sistema. Então, o teatro deve continuar exercendo essa função crítica, mais do que nunca, propondo novas condições de estar no mundo para a sociedade, em doses virulentas e atômicas. Pulverizar, fragmentar as verdades, negando uma Verdade Absoluta que nunca virá. Este não é o melhor dos mundos, nem o pior deles, está em movimento e podemos fazê-lo se mexer.
A História nunca acaba. A utopia do teatro é que o mundo vai sempre poder ser outro, porque nele existem milhões de potencialidades. Cabe ao teatro resgatar essas potências incansavelmente para que ela (sociedade) possa se transformar em outra. O teatro empreende essa busca: revelar o reprimido, o recolhido, o não expresso, mas que funda nossa persona social.
O problema não tá no teatro,e sim, em que faz.
Disse tudo, é isso mesmo.