É a minha primeira vez na Flip, a Festa Literária Internacional de Paraty. Mal chego à cidade e sou imediatamente tomado pela atmosfera única desse lugar. Paraty, com suas ruas de pedra e casarios históricos, parece pequena diante da multidão que a ocupa. É como se as paredes centenárias se expandissem para acomodar o espírito de cada leitor, escritor, artista e entusiasta que aqui se encontra. A cidade, por alguns dias, vive para os livros, respira literatura em cada esquina, em cada café, em cada conversa ao acaso.
A Flip é mais do que uma feira de livros. Criada em 2003, tornou-se um dos eventos literários mais importantes do Brasil, reunindo autores nacionais e internacionais, promovendo debates, encontros e a celebração da palavra escrita. Uma festa que transforma Paraty num ponto de encontro para ideias e culturas. Aqui, o verbo assume o protagonismo e o público, uma plateia sempre atenta, ansiosa por escutar, discutir e refletir.
Vim à Flip este ano para o lançamento de um livro muito especial: Os Satyros: Teatricidades – experimentalismo, arte e política, organizado por Marcio Aquiles e publicado pela Edições Sesc. A obra comemora os 35 anos da Companhia de Teatro Os Satyros, que fundei ao lado de Rodolfo García-Vázquez em 1989. Amanhã, sábado (12/10), participo de um bate-papo com o Marcio Aquiles, após uma apresentação de excertos de cenas dos Satyros, com atuação de Henrique Mello e Gustavo Ferreira. Uma celebração não apenas do livro, mas também de um caminho trilhado com paixão e dedicação ao teatro.
O livro em si é um tesouro. Elegante em sua forma e profunda em seu conteúdo, reúne ensaios de críticos e pesquisadores que têm acompanhado de perto nossa jornada. Kil Abreu, Marici Salomão, Miguel Arcanjo Prado, Beth Lopes, Guilherme Genestreti, Silas Martí, além do casal norte-americano Dana e Ricky Young-Howze, contribuem com reflexões ricas sobre nossas práticas artísticas, nossa pedagogia e nossa atuação sociocultural. Cada texto, cada imagem selecionada, compõe um panorama que não só resgata nossa história, mas também propõe novas leituras e diálogos sobre a trajetória do grupo.
Estar aqui, na Flip, e lançar essa coletânea, é um momento de celebração e reconhecimento de um trabalho que ultrapassa o palco. É um encontro com a história e, ao mesmo tempo, um convite para olhar para o futuro, para o que ainda há por construir.