ESCOLA DOS SONHOS | Quanto custa um intercâmbio

Há coisas que o dinheiro não mede, ainda que custem caro. Penso nisso ao ver as fotos dos nossos estudantes em Jena, na Alemanha. Dez dias que pareceram uma vida inteirinha. Eles estão rindo, e nas entrelinhas daquelas imagens há algo que não cabe no enquadramento. O espanto de quem descobre que o mundo é muito maior do que imaginava, e que o teatro pode ser uma língua falada em qualquer lugar.

Jena é o berço do romantismo, uma cidade onde arte e filosofia se encontraram para desenhar o pensamento moderno. Ali, nossos estudantes e formadores viveram o que chamo de uma travessia. Não apenas uma viagem geográfica, mas uma passagem interior, da curiosidade à compreensão, do espanto à escuta. A experiência foi financiada com recursos europeus, sem um centavo de verba pública brasileira. E, no entanto, o que eles trouxeram de volta não tem preço: histórias, afetos, perspectivas.

Mais de trezentos intercâmbios já cruzaram as fronteiras da nossa SP Escola de Teatro. Cada um deles é uma semente lançada ao vento, germinando em territórios improváveis. Neste momento, recebemos, aqui em nossas sedes, artistas da Grécia, da Índia e da Alemanha. O dramaturgo Rustom Bharucha certamente deixará marcas profundas em sua passagem; e, neste semestre, uma estudante grega vinda da UniArts, de Oslo, na Noruega, compartilha conosco sua trajetória. Em breve, Robert Schuster, da Ernst Busch, de Berlim, também virá respirar este mesmo ar. É como se, a cada encontro, a escola ganhasse novas janelas. E o vento que atravessa essas aberturas renovasse, silenciosamente, o sentido do que somos.

Digo, sem hesitar: a SP nasceu internacional. Mas internacional não no sentido de se afastar do chão que a sustenta, e sim de expandi-lo. Somos uma escola que se abre ao mundo sem se perder do Brasil. E, que, ao mesmo tempo, abre o mundo para o Brasil. Ainda neste semestre, dez estudantes seguirão para Portugal e dois para a Noruega. Muitos outros já atravessaram a América Latina e a África. Há um fio invisível que nos une. O desejo de aprender com o outro, de acolher o estrangeiro que habita em nós.

Às vezes penso que a SP Escola de Teatro é mais que uma instituição. É uma dobra no tempo. Um lugar onde o passado e o futuro se encontram e se perguntam, como quem inaugura uma utopia: “Que escola você gostaria de ter estudado?”

Nós, aqui, sonhamos essa pergunta, mas centenas a respondem todos os dias, com seus corpos, vozes e invenções.

E então volto à questão inicial: quanto custa um intercâmbio?

Custa o desejo de colocar o nosso teatro no centro do mundo. Custa sonhar. Custa uma identidade que se quer plural. Custa, sobretudo, o desejo, esse gesto teimoso e revolucionário de mudar a ordem das coisas.

Ator, roteirista e cineasta. Co-fundador da Cia. Os Satyros e diretor executivo da SP Escola de Teatro.
Post criado 1950

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