Estou na África. Mais precisamente em Cabo Verde, país que tem a língua portuguesa como idioma oficial, o que nos torna irmãos. Vim com dupla missão.
Primeiramente, para participar, com a minha companhia, Os Satyros, da 19ª edição do Festival Internacional de Teatro do Mindelo, o Mindelact, que acontece anualmente na cidade de Mindelo, na ensolarada e hospitaleira ilha de São Vicente, neste pequeno arquipélago plantado no Atlântico, perto da costa oeste africana.
A segunda razão da minha jornada é que serei, a convite do Ministério da Cultura de Cabo Verde, um dos palestrantes do 1º Encontro Internacional de Programadores de Artes Cênicas, entre os dias 7 e 12 de setembro. E adivinhe qual o tema da minha apresentação? Claro que o modelo pedagógico da nossa SP Escola de Teatro – Centro de Formação das Artes do Palco.
Mas voltemos ao Mindelact. Como muito bem lembrou o meu amigo João Branco, em sua coluna deste mês aqui no portal da Escola, “o festival é, hoje, o maior acontecimento teatral da África Ocidental e Lusófona. Com uma duração média de dez dias, comporta cerca de 40 espetáculos de teatro de todos os gêneros e para todos os gostos e idades, oriundos de quatro continentes e de muitos países diferentes”. Além de um dos organizadores, idealizadores e curador do Mindelact, João também é diretor do Grupo de Teatro do Centro Cultural Português. Portanto, como eu, um apaixonado pelo teatro.
Estou curiosíssimo para ver o que há de novo na cena crioula de Cabo Verde. Como já disse em outras ocasiões, neste mesmo espaço, a troca cultural é uma das maiores – senão a maior –riqueza do homem. Mesmo com sérios problemas de desenvolvimento, como o Brasil, o arquipélago africano não se cala e faz questão de colocar no palco aquilo que pensa, como enxerga sua sociedade. É inspirador. Com Os Satyros, estaremos apresentando “Inferno na paisagem belga”. Torçam por nós!
Agora, sobre o Encontro de Programadores de Artes Cênicas, confesso que fico um pouco nervoso sempre que assumo o papel de palestrante ou conferencista. Sou mesmo um bicho do palco. Mas falar do modelo pedagógico da SP Escola de Teatro é algo tão prazeroso, que nunca nego o bate-papo. Especialmente ao constatar que, depois de anos de sonho e planejamento, conseguimos criar uma instituição de formação das artes do palco que já é referência para cursos tradicionais do Brasil, como a EAD/USP, que está tentando incorporar, em sua grade de ensino, muita coisa que deu certo no projeto da nossa Escola.
Ah, sobre Cabo Verde, nem preciso dizer que já estou simplesmente encantado com suas paisagens incríveis e com o alto-astral de seu povo. E, ao lado de Cuba e do Brasil – e, talvez por isso, uma sensação de parentesco próximo – é dos lugares mais musicais que já estive. Mais, conto depois. Abraços africanos a todos!