Então o ano começou com filmes, músicas, livros, jardinagem e a companhia deliciosa do Chico, o labrador caramelo que apareceu por aqui no último dia do ano.
Há muito, muito tempo eu não tinha dias inteiros só pra mim, pra fazer coisas que no dia a dia são quase impossíveis. Como mexer no jardim, por exemplo. Ou assistir, num mesmo dia, dois ou até três filmes.
Foi o réveillon mais sensacional que jamais teria imaginado. No início, quando pensei nesta possibilidade, tive muitas vezes a sensação de que poderia estar fazendo algo que pudesse me arrepender mais tarde.
Afinal, convites não faltaram para praias, exterior e até cidadezinhas no interior.
Mas porque 2012 foi um ano absurdamente maluco, precisava descansar mesmo. Além de muitas viagens por aqui, no Brasil, fui várias vezes ao exterior. Comecei o ano no Egito e Oriente Médio; estive em Cuba; na Rússia e Escandinávia; fui pra Argentina e, haja fôlego, visitei a Espanha e Portugal, em dezembro.
Assim, depois de ter passado o Natal com a minha família em Curitiba, eu e meu irmão Dimi, mais o Rodolfo, viemos para Parelheiros. A ideia era mesmo descansar e aproveitar um pouco a tranquilidade do lugar.
No dia 31, como relatei aqui, ganhamos um amigo inusitado, Chico, o labrador abandonado doente perto de casa. Depois da ceia, quase perto da meia-noite, com nossas taças e um delicioso espumante chinelo, fomos à beira da Guarapiranga, bem ao lado de casa.
O que se passou, no entanto, foi um deslumbramento. Ficamos na beira da represa. À nossa frente, do outro lado da margem, a favela Rio de Janeiro e, mais distante, o Jardim Angela. Assim, guiados pela contagem das horas da periferia, à meia noite, nos abraçamos, estouramos nosso espumante e brindamos o novo ano.
Simbolicamente, este encontro com 2013 é magnífico. Estávamos de braços dados com a periferia, a mais legítima tradução de São Paulo.
O que vimos, foi um espetáculo de fogos e cores que não deixou nada a desejar a nenhum endereço elegante da cidade.
Com Chico e a periferia no coração, iniciar 2013 teve outro sabor. É como se a vida, a partir de agora, ganhasse outras matizes, outros coloridos.