A dramaturgista e crítica Christiane Riera morreu ontem, aos 44 anos, em São Paulo, em decorrência de um câncer, contra o qual lutava desde junho de 2011.
Riera fazia pós-doutorado na ECA-USP, estudando modos de avaliação de roteiros cinematográficos, sob supervisão de Esther Hamburger.
Fez mestrado e doutorado em dramaturgia e crítica dramática pela Universidade Yale. Trabalhou por três anos como consultora para o Yale Repertory Theater e foi crítica colaboradora do jornal “The Village Voice”, além de consultora do The New York Theater Workshop.
Riera também influenciou a produção cultural brasileira. Foi crítica de teatro da Folha entre 2010 e 2011. No cinema, atuou como consultora de roteiros para a produtora Gullane Filmes e coordenou o departamento de desenvolvimento de projetos da produtora O2.
Orientou os roteiros de “O Jardineiro Fiel”, dirigido por Fernando Meirelles, “Xingu” e “O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias”, ambos dirigidos por Cao Hamburguer.
Trabalhou ao lado de outros nomes do cinema brasileiro, como Laís Bodanzky, Karim Aïnouz, Heitor Dhalia e Carlos Cortez.
Sua carreira foi singular ao mesclar conhecimento acadêmico e de realização, assim como teatro e cinema. “Foi uma pessoa com qualificações muito raras e contagiava a todos com seu entusiasmo”, diz Esther Hamburger.
Nesse trânsito constante entre estudos acadêmicos e práticos, teatro e cinema, desenvolveu função até então inédita no país, a de dramaturgista.
“A Chris inventou essa profissão para ela. Ela ajudava os artistas envolvidos num filme a entenderem o texto, descobrirem entrelinhas. Deixou sua marca ao nos fazer buscar compreender desde a essência de um filme até a obra total. Nunca vi essa função no cinema daqui ou no lá de fora”, diz Cao Hamburguer.
No teatro, entre outros trabalhos, traduziu e produziu ao lado de Célia Forte e Maria Luísa Mendonça o espetáculo “Essa Nossa Juventude”, do dramaturgo americano Kenneth Lonergan, que obteve duas indicações para o Prêmio Shell em 2006.
Como crítica, Riera também deixou um legado. “Além de erudição, ela tinha um olhar generoso que não é comum na crítica”, recorda o autor e ator Ivam Cabral.
Christiane Riera deixa um filho, João, fruto do casamento com o roteirista e dramaturgo Bráulio Mantovani.
Seu corpo seria cremado hoje, às 13h, no Horto da Paz.
Fonte: Folha de S. Paulo, 12 de maio de 2012