As coisas por aqui andam bem. Na verdade, e você sabe disso, é a primeira vez que me atrevo a chegar até você. Desde que você se foi, nunca consegui direito falar sobre a sua partida. Sempre achei que, mais do que doer, seria difícil também porque interrompemos tantas histórias… E aconteceram tantas, mas tantas coisas nesses quase dois anos que se passaram que, agora, eu quis dividir contigo.
Desde que você se foi, tantas vezes quis lhe falar. Tanto pra dividir, compartilhar. A demora em te escrever, acredite, não foi falta de vontade. Ao contrário. Tudo o que eu mais queria era poder conversar com você outra vez. Mas o peito apertava com um força que me tirava o ar e esta conversa foi sendo adiada, embora cada vez mais ansiada.
Por isso, hoje, quis escrever esta carta. Não como uma homenagem póstuma, mas como uma oportunidade de contar pra você que sua presença está mais viva do que nunca. E decidi escrever num momento maluco porque, quis Dioniso, que a gente, no Satyros, remontasse o “Vestido de Noiva”.
Então, enquanto ensaiamos a peça, é inevitável trazer você de volta ao nosso convívio. Assistindo aos vídeos e, principalmente, quando repassamos cada uma das marcas de cena, sua presença é muito forte. E, o mais curioso, quem te substitui é o Thadeo Ibarra. Lembra dele? É o mesmo ator que te sucedeu em “Liz”. Não é engraçado isso? Também voltou a trabalhar conosco a nossa amada Helena Ignez, que você sempre adorou e que tinha igual carinho por você.
Aliás, no Satyros, a gente tem coseguido coisas bacanas. O “Roberto Zucco”, que você ensaiava quando foi para o hospital, fez uma temporada de sucesso estrondoso. Ganhou todos os prêmios do ano e ficou mais de um ano em cartaz. Eu deixei o elenco também. Não consegui prosseguir sem você e isso me deixou dois anos longe do palco. Voltei, enfurrujado e meio sem jeito, para estrear o “Cabaret Stravaganza”, que continua em cartaz e que é dedicado a você.
Mas escrevo também pra dar notícias sobre o seu amor, que está bem e sente muito a sua falta. É, você estava apaixonado quando foi para o hospital, fazendo planos. A nossa última conversa, inclusive, foi sobre isso, lembra-se? Hoje, o seu amor está bem, embora tenha sido difícil pra ele entender tudo o que aconteceu. Temos nos falado sempre. Imagina que teve também problemas de saúde? Fez uma viagem pra Europa e quando chegou na Inglaterra, sua paixão foi internada e passou mais de um mês num hospital em Londres.
E por falar nisso, eu também tive aí uns problemas sérios de saúde. Não enxergo mais do olho direito e isso não tem sido tranquilo. Como é recente, ando meio borboleteando, entrando em vidraças, me batendo contra as portas de vidros dos shoppings. Aliás, ir ao Frei Caneca não tem sido fácil. Evito. É um lugar em que parece não fazer sentido ir sem você.
Mas queria mesmo te contar da SP Escola de Teatro, de tudo o que tem acontecido com esse sonho que sonhamos juntos. São tantas conquistas, meu amigo querido, que até posso ver no seu rosto um largo sorriso estampado. Desde que você se foi, já formamos nossa primeira turma e muitos deles estão em cartaz com seus inúmeros projetos, nos enchendo a todos de orgulho. Nesse tempo também, fizemos parcerias com outras instituições de ensino e até com a Suécia, fruto daquele encontro em que você esteve presente, em 2009. Recebemos a visita de centenas de artistas, com os quais trocamos saberes e saudades, sim, porque muitos deles também lamentam sua ausência. Você continua sendo uma referência.
No momento, nos preparamos pra lançar o segundo número da A[L]BERTO, nossa revista, assim batizada em sua homenagem. Você gostaria dela, tenho certeza. É elegante, culta e plural, como você sempre foi.
Enfim, Albertinho, era só pra dizer que, sim, você faz mesmo muita falta, mas, paradoxalmente, me faz ainda muita companhia, quando leio seus textos, e leio muito e leio sempre; quando ouço as músicas que você amava – o “Out of the Game”, disco novo do Rufus Wainwright, é lindo! – e que aprendi a amar também; quando lembro da sua risada sonora e parece que ainda posso ouvi-la.
Você foi e será sempre fonte de inspiração e as inspirações nunca morrem, não é? Feliz aniversário, meu querido. E que a sua linda trajetória continue a estimular e entusiasmar nossas vidas, mentes e corações.
Com amor,
Ivam
Quanta delicadeza!!!!!!
Quanto amor!!!!!
Quanta generosidade!!!!
Alberto foi um grande mestre. Grande mesmo. Sou feliz por ter dividido uma história com ele.