NA MÍDIA: ÁGORA EM PROL DA DRAMATURGIA

Lauro César Muniz, Ligia de Paula, Ivam Cabral, Aderbal Freire-Filho e Marici Salomão (foto: Felipe Del)

por Felipe Del

Artistas, profissionais de teatro com experiência de sobra, reunidos em uma única mesa para expressar seus pontos de vista e ideias acerca de um tema em comum. Esse encontro, promovido pelo departamento de Extensão Cultural da SP Escola de Teatro – Centro de Formação das Artes do Palco suscitou um fértil debate sobre o reconhecimento legal da profissão de dramaturgo.

Realizado no último sábado (14), das 10h às 13, na SP Escola de Teatro, o evento contou com a participação de: Marici Salomão, dramaturga e coordenadora do curso de Dramaturgia da Instituição; Aderbal Freire-Filho, diretor e membro do conselho diretor da Sociedade Brasileira de Autores Teatrais (Sbat); Lauro César Muniz, dramaturgo, autor e membro do conselho de administração da Associação dos Artistas Amigos da Praça (Adaap), organização que gere a Escola; Ligia de Paula, atriz e presidente do Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões de São Paulo (Sated/SP); e Ivam Cabral, ator, dramaturgo e diretor executivo da Escola.

Sob mediação de Marici, que apresentou ao público cada um dos participantes, a conversa teve início com Aderbal falando sobre a forma como a Sbat, sociedade criada em 1917 com o objetivo de “abrigar” dramaturgos, oferecia suporte aos artistas. “A Sbat era um lugar onde não existia uma regularização legal, mas onde os autores eram tratados como autores. Ser filiado à ela não te concedia uma carteira, mas se tinha reconhecimento entre seus pares. Ou seja, não era legal, mas era real.”

Após discorrer sobre a trajetória da organização e sua importância para a história do teatro nacional, comentando, inclusive, os motivos que a fizeram perder a força nas últimas décadas, o diretor passou a vez explicitando as razões pela qual a Sbat deveria ser mais visada. “Acho que os novos autores têm que se apropriar dela, afinal a geração que a fundou também era jovem e sentiu que era preciso criar a casa do autor.”

Lauro César Muniz assumiu o microfone para relembrar que a Sbat é uma empresa privada, e que, segundo ele, é assim que deve ser mantida. Além disso, o artista explicitou, resumidamente, a diferença entre o dramaturgo e o dramaturgista. “Dramaturgo é o aquele que escreve o texto, já o dramaturgista participa diretamente do processo de criação de uma montagem. Ele está isolado, é tudo e é nada ao mesmo tempo, tem função poética e técnica.”

Levantando-se da cadeira para estabelecer seu contato com o público, Ligia de Paula voltou aos seus primeiros tempos na profissão de atriz e falou sobre o conceito de “logística cultural”, a partir da qual ela acredita que seria possível entender e mapear a trajetória da cultura no País, obtendo melhores resultados para o setor.

Ligia também abordou a importância da arte para o ser humano: “Somos a saúde mental da humanidade”, disse. Representando o Sated, a artista salientou: “Estamos sempre com as portas abertas, recebendo autores. Quem quiser, pode ficar associado como dramaturgista ou dramaturgo”.

Chegando a vez de Ivam Cabral expressar seus pensamentos, o artista começou lançando uma informação: “a indústria criativa é a terceira maior do mundo; só perde para a bélica e a automobilística”. Dito isso, fez algumas considerações sobre a arrecadação de fundos por meio do teatro, antes de adentrar na questão da regulamentação da profissão de dramaturgo e falar sobre a relação da Escola com o Sated e o Sbat.

“Nós, dramaturgos, precisamos de segurança social, temos que ter alguém que responda por nós. Não podemos virar as costas para o Sindicato, é por lá que vamos conseguir nos aposentar e ter respeitados nossos direitos”, reforçou.

Inquieto, Lauro voltou a falar da Sbat e cogitou a opção de que o órgão seguisse o modelo adotado pela SP Escola de Teatro, que é gerida por uma Organização Social chamada Associação dos Artistas Amigos da Praça. Esse formato de gestão é implantado desde 2004 pela Secretaria de Cultura do Estado, e propicia que instituições sem fins lucrativos atuantes na área cultural sejam transformadas em Organizações Sociais, lhes transferindo a responsabilidade da gestão de espaços públicos antes geridos pela Secretaria.

Ivam Cabral, então, explicou os passos que deveriam ser tomados para a consolidação de uma gestão como essa. A ideia foi tão bem vista por Aderbal, que, após alguns minutos de conversa com o diretor executivo da Escola, surgiu o embrião do que um dia pode representar a retomada da força da Sbat.

Com o tempo do debate chegando próximo ao fim, Marici estendeu ao público a chance de fazer perguntas aos participantes. O papel do dramaturgo na sala de ensaio, os critérios para se reconhecer legalmente um artista dessa área e os próprios requisitos que ele deve atender foram alguns dos temas tratados.

“Essa categoria (de dramaturgos) existe? Essa é a primeira questão que deve ser levantada. Quais critérios devem ser adotados para reconhecer esse profissional é uma segunda questão. Os dramaturgos precisam existir efetivamente, se unir, para que a gente batalhe por essa causa”, ressaltou Ivam.

A partir de uma conversa tão produtiva como essa, quais caminhos seguir era a dúvida que permanecia no ar. “São tão poderosos esses encontros, que acabamos de criar a Associação dos Amigos da Sbat. Este é só o começo de uma discussão”, revelou Ivam, em tom descontraído, com o consentimento de Aderbal, instigando ainda mais os que acompanhavam a Mesa de Discussão.

Ivam e Marici agradeceram ao público e a cada um dos participantes que compareceram à Mesa, especialmente a Lauro César Muniz, que estreou, recentemente, a telenovela “Máscaras”, na Record; Aderbal Freire-Filho, que veio do Rio de Janeiro, e Ligia de Paula, que saiu de Sorocaba para vir até a Escola.

“Não acredito em encontro que termina sem marcar um próximo”, comentou, empolgado, o diretor cearense. “Como membro do conselho administrativo da Adaap, reconheço a importância de todos os convites feitos pela Escola. Acho extremamente importante centralizarmos essa discussão aqui”, arrematou Lauro.

Igualmente entusiasmada, Ligia destacou o mérito do encontro: “Que possamos sair daqui compreendendo o valor da função do dramaturgo, pois é um trabalho benéfico, e se é benéfico temos que zelar por ele. Primeiro, temos que realizar debates, levantar propostas e reunir um material, depois, convocar uma assembleia. Este é o processo, então vamos nessa!”

Fonte: Portal da SP Escola de Teatro, 16 de abril de 2012

Ator, roteirista e cineasta. Co-fundador da Cia. Os Satyros e diretor executivo da SP Escola de Teatro.
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