Comecei a fazer teatro em 1985, quando me matriculei no Curso Superior de Artes Cênicas da PUC/PR e da Fundação Teatro Guaíra, criação da amada e saudosa Lucia Camargo. Foi ali que construí meu alicerce teatral. Naquelas salas e palcos improváveis, encontrei mestres inesquecíveis e conheci praticamente toda a classe teatral curitibana. Mas não só. Foi também ali que me aproximei de nomes que, nos anos seguintes, se tornariam fundamentais em minha vida.
Um deles foi Paulo Autran. Durante um tempo, em dias de bolso vazio e coração cheio de sonhos, foi ele quem pagou meu aluguel. A generosidade de Paulo, discreta e imensa, é daquelas marcas que a vida não apaga.
Foi nesse mesmo espaço que conheci uma figura muito singular: Paulinho Maia. No último ano da faculdade, ele me dirigiu em um espetáculo chamado “A Luz, as Formas e as Ervas Envenenadas”, inspirado em Pinter, Arrabal, Lorca e Artaud. Um atrevimento imenso para jovens que recém saiam da universidade. O processo foi tão intenso, tão avassalador, que terminou em brigas –entre todos nós, inclusive com o próprio Paulinho. Mas a distância não durou. Logo voltamos a nos falar. E daí nasceu uma amizade.
Paulinho se tornou uma grande referência para mim. Eu amava o seu trabalho, que, com o tempo, só ganhava em profundidade. Mais de uma vez, ouvi dele que o teatro não era um fim em si mesmo. Era um meio. Uma veia de inspiração que se abria para o que de fato lhe movia: as artes visuais. O teatro era a porta, mas o destino era sempre outro, mais amplo, mais pictórico.
Nossa última conversa foi sobre “Pessoas Perfeitas”, texto meu e do Rodolfo, que Paulinho desejava montar em Curitiba. Não deu tempo.
Hoje, recebo a notícia de sua morte. Paulinho se despede em Curitiba, cidade onde nossas histórias se cruzaram. E eu fico aqui, com a memória desse amigo que me ensinou que o teatro pode ser caminho, mas também desvio, inspiração, travessia para outros mundos.