por Ivam Cabral Especial para o Atores & Bastidores*
Quem foi na noite desta segunda (12) ao Salão Nobre do Theatro Municipal de São Paulo viu renascer a esperança no futuro da dramaturgia brasileira.
Eu estive lá, reunido com meus companheiros, para a reunião do Movimento Sbat – 100 anos 1917-2017, uma iniciativa urgente para salvar a Sociedade Brasileira de Autores Teatrais da iminente derrocada, cuja missão é fazer com que a Sociedade chegue ao centenário com as contas saneadas.
Estavam presentes, ao meu lado, o diretor Aderbal Freire-Filho, que hoje representa a instituição; o escritor e dramaturgo Lauro César Muniz, José Luis Herencia, diretor administrativo da Fundação Theatro Municipal, e Fábio Maleronka, assessor da Secretaria Municipal de Cultura. Também compareceram nomes como Celso Frateschi, Hugo Possolo, Mário Viana, Ney Piacentini, Cecília Boal, Rodolfo García Vázquez, Joaquim Gama e Dinovan Dumas de Oliveira, dentre tantos.
Durante mais de três horas, discutimos, a partir das palavras de Aderbal, os fatores que levaram a Sbat a essa situação e buscamos alternativas para reerguê-la de modo que ela ocupe a posição de destaque que sempre fora reservada a ela, retomando o valor histórico e cultural que sua existência representa para o País.
Ficou claro para todos nós que os grandes problemas da Sbat se deram em gestões antigas, que, por fraudulência ou incompetência – manifestada principalmente pela incapacidade de dialogar com os autores, linguagens e formatos que iam surgindo –, deturparam a imagem da instituição e passaram a perder cada vez mais associados.
Ainda que se trate, a princípio, de um problema administrativo interno e privado, percebemos que devemos recorrer ao poder público, afinal, a Sbat é uma organização sem fins lucrativos e de importância ímpar para os autores do País, que hoje não podem se sentir representados em outro lugar.
O embrião desse movimento se deu em um evento realizado em nossa SP Escola de Teatro – Centro de Formação das Artes do Palco, em abril de 2012. Era uma mesa de discussão sobre o reconhecimento legal da profissão de dramaturgo, e eu estava entre os participantes, junto de Marici Salomão, Aderbal Freire-Filho, Lauro César Muniz e Ligia de Paula.
Irrompeu naquela conversa a questão da Sbat e, após longa conversa, criamos informalmente a Associação dos Amigos da Sbat (Aasbat). Eu, Aderbal, Lauro, o advogado Dinovan Dumas de Oliveira e o ex-dramaturgo e diretor Alcione Araújo – a quem infelizmente perdemos no final do ano passado – demos início a essa batalha.
Em abril deste ano, no Rio, um encontro organizado por Aderbal conseguiu arrecadar doações para ao menos pagar os salários atrasados dos funcionários que heroicamente mantém a sociedade funcionando e atendendo os associados que restaram.
Já ontem, demos mais um importante passo para a recuperação da Sbat. Foram criadas três comissões: uma para divulgação da nossa causa, outra para cuidar das finanças, recebendo e organizando as doações que serão recebidas aqui em São Paulo, e, finalmente, uma comissão artística, que será responsável pela condução de trabalhos como oficinas e leituras de textos para arrecadar fundos para a Sbat. Marici Salomão, que é coordenadora do curso de Dramaturgia da Escola, se ofereceu para assumir essa frente.
Por meio de seus representantes, a Secretaria Municipal de Cultura e a Fundação Teatro Municipal também manifestaram apoio à luta. E vários outros ali fizeram o mesmo, como Cecília Boal, ex-exposa de Augusto Boal, que declarou que está envolvida, em nome do autor.
E assim o encontro se encerrava, com todos falando empolgados e inúmeras possibilidades se estendendo diante de nossos pés. O sorriso no rosto de Aderbal reavivou ainda mais minhas esperanças de que a Sbat volte a ser a casa do autor e reúna as novas e as antigas gerações de dramaturgos brasileiros. Esta é uma luta do teatro nacional.
Pois bem, fica aqui meu convite e, mais, minha convocação: nos apossemos da Sbat! Ela é nossa, vamos recuperá-la!
*Fundador do grupo Os Satyros, Ivam Cabral é ator, dramaturgo, produtor cultural, diretor da SP Escola de Teatro e doutorando em pedagogia do teatro na ECA-USP. O artista escreveu este texto a convite do blog.
Fonte: R7, 13 de agosto de 2013