A obra, que será lançada no Satyros Bijou no dia 15 de julho, às 17 horas, traz depoimentos de Marcelo Rubens Paiva, Helena Ignez e Marília Gabriela, entre outros artistas, críticos e acadêmicos
Nos anos 1960 e 1970, o Cine Bijou se tornou um reduto do cinema cult em São Paulo e um símbolo da resistência artística durante a ditatura militar. Localizado em uma pequena sala na Praça Franklin Roosevelt, o espaço exibia produções de cineastas renomados como Jean-Luc Godard, Stanley Kubrick, Glauber Rocha, Luis Buñuel, François Truffaut e Ingmar Bergman, entre outros. A programação atraía desde intelectuais sedentos pela nata da cinematografia mundial a adolescentes ávidos por assistir filmes proibidos para menores de 18 anos.
A história dessa referência do cenário cultural paulistano é contada no livro Memórias do Cine Bijou, publicação do selo Lucias e edição da Associação dos Artistas Amigos da Praça (Adaap), entidade responsável, entre outros projetos, pela gestão da SP Escola de Teatro. A obra escrita por Marcio Aquiles, coordenador de projetos internacionais da SP, partiu de farta pesquisa documental e conta com entrevistas de artistas, críticos e acadêmicos como Rubens Rewald, Helena Ignez, Marcelo Rubens Paiva, Marília Gabriela, Jefferson Del Rios e Nabil Bonduki.
Os depoimentos recuperam o legado do cinema e apontam as perspectivas para o seu futuro. “O livro materializa histórias do Bijou e também reflexões sobre o cinema, os sistemas de produção e os circuitos de distribuição dos anos 1960 até hoje”, conta o autor. “O Bijou produziu gerações de cinéfilos na cidade de São Paulo. E não só isso, foi ponto de encontro de artistas e pensadores que estavam em formação; portanto, não há dúvidas de que os filmes de arte que lá eram exibidos foram decisivos em seu desenvolvimento intelectual. Além disso, a conjectura política e as facilidades de acesso àquelas obras sofisticadas, questionadoras e, muitas vezes, libertárias, o transformou em ícone de resistência à ditadura militar.”
O chamado período histórico do Bijou vai de 1962 a 1996. Depois disso, o espaço teve ocupações alternadas, funcionando como cineclube ou teatro. Ganhou nova vida no dia 25 de janeiro de 2022, data de aniversário de 468 anos da cidade de São Paulo, graças ao grupo de teatro Os Satyros, que reformou o espaço, hoje uma sala aconchegante com cerca de oitenta lugares.
“Nós decidimos reabrir o Cine Bijou por vários motivos. O primeiro deles foi manter a forte vocação da Praça Roosevelt como espaço de cultura na cidade, nossa missão desde que aqui nos instalamos com o Espaço dos Satyros, em 2000. O local estava para locação e, provavelmente, seria transformado, como aconteceu com muitas locações similares, em mais um bar ou uma igreja. Naquele momento delicado de um governo sem apreço algum pela democracia, reabrir o Bijou, um cinema icônico e símbolo da resistência à ditadura, sobretudo nos anos 1960 e 1970, era algo bastante oportuno. Por fim, queríamos um cinema que preservasse sua tradição de exibir filmes de arte e que abrigasse as produções nacionais mais experimentais”, explica Ivam Cabral, proprietário do Satyros Bijou, juntamente com o diretor, cineasta e dramaturgo Rodolfo García Vázquez.
Parte da memória paulistana, o Cine Bijou, primeiro cinema de arte do país, traz na fachada a placa sobre a força desse espaço: “Inaugurado neste local, em 1962, foi ponto de encontro de movimentos de resistência à Ditadura Militar brasileira, onde se exibiam produções consideradas subversivas pelo regime”.
Livro: Memórias do Cine Bijou.
Autor: Marcio Aquiles.
Edição: Associação dos Artistas Amigos da Praça (Adaap).
Coordenação Editorial | Selo Lucias – Ivam Cabral, Beth Lopes, Elen Londero e Marcio Aquiles.
Capa e diagramação: Henrique Mello.
Preparação de texto: Guilherme Dearo e Beatriz Ennes.
Preço: Distribuição gratuita.
Serviço
Lançamento livro:
Memórias do Cine Bijou
Autor: Marcio Aquiles.
Dias 15 de julho, sábado, às 17h
Local: Satyros Bijou, Praça Franklin Roosevelt, 172.
Fonte: Isto É