𝐂𝐑Ô𝐍𝐈𝐂𝐀 𝐏𝐄𝐐𝐔𝐄𝐍𝐈𝐍𝐀 | 𝐔𝐦 𝐧𝐨𝐯𝐞𝐦𝐛𝐫𝐨 𝐩𝐚𝐫𝐚 𝐞𝐧𝐠𝐚𝐧𝐚𝐫 𝐚 𝐯𝐢𝐝𝐚

Talvez o tempo seja isso: um convite sutil e constante para remendar nossos planos e ajustar as velas ao sabor dos ventos imprevistos, como se sussurrasse que a vida não precisa ser uma sequência rígida de passos predeterminados. É possível, quem sabe, que o tempo nos ensine a ver além do óbvio, a descobrir beleza no que normalmente passaria despercebido, abrindo espaço para que possamos contemplar possibilidades que a familiaridade tende a apagar. Assim, o tempo, em sua sabedoria silenciosa, nos chama a questionar, a reinventar, a deixar que o novo floresça no espaço antes dominado pelo que nos é mais conhecido.

Porque talvez seja hora de fazer o que nunca fiz. Abandonar esse modo repeat que empobrece o cotidiano. As mesmas pessoas, os mesmos lugares, as dores que se repetem e se sobrepõem, tão previsíveis quanto inevitáveis. É como se o próprio novembro tivesse se tornado um símbolo de ciclos difíceis, uma moldura de dias que trazem o peso das lembranças.

Novembro… sempre novembro. Esse mês parece guardar em si uma melancolia crônica, uma saudade antecipada. Me lembro de Lisboa, onde o inverno se insinuava pelas esquinas de novembro, enquanto os luminosos do Amoreiras já anunciavam o Natal. Na saída das estações do metrô, o aroma das castanhas assadas inundava o anoitecer, como uma promessa quente no frio. Mas o que ficou não foram exatamente as castanhas. Foi a fumaça do carvão, uma névoa doce e ácida ao mesmo tempo, que se espalhava pelo Rossio e me acompanhava até o Bairro Alto. A cidade parecia engolida por essa atmosfera brumosa, como se tudo se dissolvesse em silêncio e melancolia. Aquela fumaça virou uma memória difusa, sem gosto ou forma, que insiste em se repetir, persistente, em todos os novembros.

Talvez agora seja o tempo de fazer tudo diferente. De me permitir errar em novas rotas, e não sempre nas mesmas. Desafiar a familiaridade que o tempo imprimiu em novembro, em Lisboa e nas castanhas, e permitir que o futuro venha com outras cores e outros aromas, como um novo mês, ainda desconhecido. Que seja o tempo de deixar que o acaso tome as rédeas, e que os passos percorram novos caminhos, onde a fumaça não é de carvão, mas talvez de alguma ideia ainda por inventar. Sim, eu preciso de mudança!

* Texto desenvolvido em colaboração com inteligência artificial #ExperimentoDigital

Ator, roteirista e cineasta. Co-fundador da Cia. Os Satyros e diretor executivo da SP Escola de Teatro.
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