O TEATRO CRÍTICO, A DESALIENAÇÃO E O TEMPO

A então aprendiz Fernanda Lopes, no Experimento 'Santa Joana dos Matadouros', de Bertolt Brecht, do Módulo Amarelo, em novembro de 2010 (Foto: Arquivo SP Escola de Teatro)

Mais do que o espetáculo, o teatro é um agente social transformador que, ao negar o sempre-igual-da-lógica-do-lucro da Sociedade Pós-Industrial, aponta novos rumos para a convivência social.

Teatro é um espaço real, vivo, atuando na dinâmica social; e suas consequências são evidentes no seu entorno. Já disse aqui que acredito no Teatro Crítico, que deve estar sempre consciente dessa interferência direta que o teatro, como atividade, exerce em seu meio, revendo essa relação crítica e constantemente.

Um teatro verdadeiramente crítico deve desalienar-se.

Estar alienado significa não estar pleno em si. O trabalhador que não se reconhece no fruto de seu trabalho está alienado. E, portanto, não é pleno. A alienação está presente em quase todas as esferas da interpretação.

Atores vendem sua força de trabalho a agências de publicidade, produtoras de casting e redes de televisão como os trabalhadores vendem sua força de trabalho no mercado de trabalho. Ainda acabam por vender produtos e serviços como vendedores de balcão, emprestando sua imagem de artistas ao jogo do mercado. Nesse processo, eles alienam sua aura de artista para um Mercado voraz e abandonam a dimensão mítica do Teatro enquanto local do encontro pleno da humanidade com seus fantasmas.

O Teatro Crítico é o lugar da desalienação; o espaço para nos libertar das amarras que nos encaixam em padrões sociais e que nos limitam a rótulos baratos. Somos uma multiplicidade de desejos e temores. O Teatro Crítico busca colocar todos no palco, para que homens e mulheres possam resgatar a si próprios.

Essa luta não é pequena e nem é possível vencê-la. Mas se esse paradigma morre; nada fica em seu lugar, apenas a defesa do Sempre-Igual.

Pensando em Paul Virilio, na imediatez e na exposição do tempo, reflito agora sobre a velocidade.

Virilio, ao falar a respeito das técnicas da fotosensibilidade, vai dizer que a definição do tempo fotográfico não é mais a de um tempo que passa, mas a de um tempo que se expõe.

Fui à margem deste raciocínio. Pensei. Ser veloz significa ser instantâneo, perceber o que se passa, refletir e reagir. Veloz na observação, na reflexão, na constatação, na resposta estética por meio do Teatro. Estar presente e acompanhar atentamente as implicações sociais.

Perceber a sociedade, o papel do artista na sociedade, o papel do teatro na sociedade e fazer teatro para a sociedade, provocando-a, negando-a e reafirmando-a em novas dimensões. A condição humana é frágil e passível de crítica. Nossa sociedade também o é.

Ator, roteirista e cineasta. Co-fundador da Cia. Os Satyros e diretor executivo da SP Escola de Teatro.
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