A MINHA OPINIÃO – “O MONTE DO MAU CONSELHO” É UM LIVRO MELANCÓLICO, PORÉM ESPERANÇOSO

O Monte do Mau Conselho" é um livro melancólico, porém esperançoso

Passei as minhas férias, em janeiro, entre o Egito e Israel, lendo “O Monte do Mau Conselho”, de Amós Oz. Foi uma grande experiência. Não apenas porque estava exatamente no lugar do planeta onde se desenvolvem as tramas da obra, mas – e principalmente – porque mergulhava em um dos momentos da história recente da humanidade que mais me fascina: a década de 1940.

Três histórias compõem esta obra de Amós Oz. Na primeira, que dá título ao livro, ficamos conhecendo o garoto Hilel Kipnis, obeso e asmático, filho de um pai sonhador e otimista e de uma mãe que permaneceu na Palestina por pura casualidade. Mas são as personagens secundárias que dão poesia à narrativa. Desde as vizinhas musicistas ao soturno Mítia, inquilino da família.

Na segunda história, “O Senhor Levy”, mais uma vez o narrador é um garoto, Uri, desta vez bravo e valente, que convive com seu pai, Efraim, eletricista e devaneador, e com as descobertas de sua, um tanto confusa, sexualidade.

Fecha a obra “Saudades”, uma série de cartas do doutor Nussbaum, médico condenado à morte por uma doença misteriosa jamais revelada ao leitor, à sua amante Mina, cujo paradeiro ele desconhece.

“O Monte do Mau Conselho” é um livro melancólico, porém esperançoso. E é na relação entre árabes e judeus, trabalhada o tempo todo entre as narrativas, que ficamos com a boa sensação de que, por meio do humano – e talvez apenas através dele – é que encontraríamos alguma saída para os conflitos entre os dois povos.

Por exemplo, em “O Senhor Levy” ficamos conhecendo, na relação de um pai com seu único filho, a visão de dois mundos completamente antagônicos. De um lado, o pai, poeta, “adorável como um ursinho de pelúcia”, que “descansava no verão numa espreguiçadeira no quintal, contando as horas e os dias”; e, de outro, Efraihm, que aderiu à luta clandestina contra os britânicos e que só aparece em casa para dormir. Entre os dois mundos, os sonhos. Enquanto o pai fantasia fontes cristalinas e poços abundantes, o filho tem visões apocalípticas, onde as cidades ardem.

Talvez resida em Amós Oz uma boa saída para o futuro. Sua posição política – embora utópica num primeiro momento – prevê que possa haver uma espécie de “paz sem reconciliação”, onde Isarel e Palestina possam conviver em harmonia mantendo suas diferenças. Como em “O Senhor Levy”, onde o fogo do apocalipse e a poesia das águas transcorrem em equilíbrio.

“O MONTE DO MAU CONSELHO”, DE AMÓS OZ
Companhia das Letras

Ator, roteirista e cineasta. Co-fundador da Cia. Os Satyros e diretor executivo da SP Escola de Teatro.
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