A MATÉRIA DO THE STAGE TRADUZIDA

O crítico inglês Ian Herbert, durante sua participação no Palco SP, em março (Foto: SP Escola de Teatro/Arquivo)

SP ESCOLA DE TEATRO

por Ian Herbert

No mês passado, estive em São Paulo para pesquisar uma peça para este jornal, no teatro brasileiro. Antes que você tenha ideias erradas sobre a política do The Stage com relação a gastos, é melhor eu acrescentar que eu também havia sido convidado para falar em uma conferência sobre cenografia lá, o que cobriu os gastos. A conferência teve lugar na SP Escola de Teatro – Centro de Formação das Artes do Palco, que merece uma história à parte. É uma escola de teatro, com diferencial, como você vai ver.

Tudo começou há mais de uma década, quando a companhia brasileira de teatroOs Satyros retornou ao país após um longo período de exílio em Lisboa. À procura de uma área barata para a criação de um teatro, eles encontraram a Praça Roosevelt, casa de traficantes de drogas, prostitutas e travestis – um local perigoso, mas que fica perto de uma das regiões mais luxuosas da cidade. A residência foi tão bem-sucedida, que outros grupos acabaram os seguindo, e, hoje, a Praça Roosevelt está limpa e remodelada. Na rua de frente a ela, são 8 salas de teatro além de outros bares da moda – e da própria SP Escola de Teatro.

Os fundadores do grupo Os Satyros, Ivam Cabral e Rodolfo García Vázquez, não expulsaram os habitantes menos salubres da área. Em vez disso, eles e os outros grupos de teatro que se juntaram a eles tentaram incluí-los em sua órbita. Essa atitude chamou a atenção do então governador do Estado, José Serra, que ofereceu financiamento para montar uma escola de formação das artes do palco, que pudesse abastecer o número crescente de teatros em São Paulo.

O planejamento para a Escola começou em 2005, com o envolvimento de muitas figuras de destaque na cena teatral local. A formação técnica era para ser tão importante quanto a atuação, e a escola deveria estar aberta ao mais amplo leque de alunos possível. Em 2010, a escola foi aberta em instalações temporárias, em uma antiga escola primária, em um subúrbio próximo à Praça Roosevelt. Havia cerca de 2 mil candidatos para as primeiras 200 vagas. Em 2012, a escola mudou-se para sua sede na Praça Roosevelt, em um edifício de 11 andares, incluindo um teatro e três estúdios de ensaio de grande porte, além de uma impressionante biblioteca e uma área de piso térreo social, onde os alunos podem conviver. As recepcionistas são todas vindas da comunidade travesti local.

Os oito cursos duram dois anos – atuação, direção, dramaturgia, cenário e figurino, iluminação, som, técnicas de palco e – talvez, o mais surpreendente – humor. Os alunos trabalham juntos em projetos, divididos em quatro módulos, cada um dedicado a um determinado tipo de encenação. A ênfase está no trabalho prático: a ideia de um curso que se desenvolve de forma acumulativa é substituída pela ênfase no experimento-a-experimento do trabalho em equipe – se um aprendiz (aluno) sai de um dos módulos, ele é imediatamente substituído por alguém da lista de espera da escola.

O sucesso da escola pode ser visto a partir da elevada taxa de emprego de seus ex-aprendizes. Há uma demanda enorme, em particular para os técnicos de palco, na cena teatral paulistana, em expansão.

O aspecto mais fascinante da escola é a amplitude de seus aprendizes: qualquer candidato é bem-vindo ao processo seletivo, rico ou pobre. A sua prova será rigorosamente examinada, e os estudantes pré-selecionados passam por uma série intensiva de testes. Aqueles de famílias pobres não só têm suas taxas pagas. Eles também podem se candidatar ao Projeto Kairós da Escola, que lhe dá uma bolsa equivalente ao valor de um salário mínimo vigente. Em alguns casos, o aluno pode até ajudar uma família inteira que vive na favela, com essa bolsa.

Quaisquer que sejam suas origens, alguns ex-aprendizes estão continuando seus estudos em universidades formais, mas um bom número está no palco ou nos bastidores, assim que saem da Escola, tendo sido ensinados por uma equipe muito experiente. A Escola já está encontrando parceiros internacionais, com outras instituições, como a Academia de Estocolmo, e colocando aprendizes para trabalhar em locais tão distantes quanto o La Scala, de Milão. Tenho certeza de que eles ficariam felizes em falar com escolas britânicas que queiram ampliar suas perspectivas.

Fonte: The Stage, Londres, abril de 2013

Ator, roteirista e cineasta. Co-fundador da Cia. Os Satyros e diretor executivo da SP Escola de Teatro.
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